segunda-feira, agosto 28, 2006

Lembras-te? Acordávamos antes do sol nascer, davas-me uma cotovelada e eu, estremunhado não queria levantar-me, tu abanavas-me e eu lá ia contigo, fugíamos pela janela e saltávamos do telhado cá para baixo, corríamos pelas florestas e não tínhamos medo de nada, se os nossos pais soubessem... Corríamos no escuro, pelas árvores, não batíamos em ramos, nunca caímos nem nunca tropeçámos, isso nunca aconteceu, fugíamos por momentos e o céu ia ficando cada vez mais azul, e depois chegávamos à orla da duna, davas-me a mão e parávamos, esbaforidos mas sempre a olhar em frente. Esses eram os dias dos cambiantes e dos degradés, do som dos grilos e dos sapos, dos pés sujos e dos galos na cabeça, os dias de chorar por causa da sopa, os dias de imaginar que monstros vivem no sótão e irmos lá para vencermos o medo, os dias de passar horas a olhar para as imagens dos livros, os dias de ouvir sons em todo o lado, os dias de imaginar sombras na parede, dias de abrir os braços e se os agitarmos suficientemente depressa talvez consigamos voar, dias em que o mundo era do tamanho do globo azul e pesado que repousava no escritório onde não podíamos entrar, dias em que a música e as imagens eram para sempre, dias em que se sorria, e porque não continuar a sorrir? Dias em que "amor" era uma palavra nas fotonovelas que se iam buscar aos armários e que folheávamos durante horas para aprender a ler.

Hoje que tudo passou?
Hoje também.


Boards of Canada - Left Side Drive

domingo, agosto 27, 2006


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26 / 07 / 2006 - Valença, Brasil

Mercury Rev - Down Poured the Heavens

O regresso, quem sabe...

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