domingo, setembro 18, 2005

Curioso como quanto mais o tempo passa mais se secam os hábitos, mais se encarquilha a frescura, e mais pesam as coisas que não mudam.

Curioso como saltamos barreiras várias, vencemos obstáculos, ganhamos contra nós próprios e há sempre um apêndice pesado que nos impede de levantar vôo.

Dantes achava curiosas as coincidências, mas agora não lhes acho piada nenhuma. Porque o tempo passa e elas são cada vez mais previsíveis. E as coisas que já sabemos que vão cair-nos em cima mesmo antes de sabermos que lá estão , essas já não surpreendem ninguém.

Fico aqui, com bilhete na primeira fila para assistir a outro desmoronamento. Mas penso que já nem tenho alma para bater palmas no fim.

quinta-feira, setembro 15, 2005

É tarde. Não, não olhei de novo para o relógio. É sempre tarde. Mesmo quando acordo recomposto, mesmo quando há tanto para fazer, mesmo quando ainda há um mundo para desvendar. É tarde. Já não fui a tempo. Passei o prazo, o prazo que eu nunca soube não existir, a data que eu pensei haver para te ter aqui, deste lado, a compreender o que afinal se passa, este mundo que eu já conheço, mas que intriga sempre quem dele se aproxima. Repito a música que me recorda de ti, e não chega, nunca vai chegar. Porque vai ser tarde. Porque entre nós só houve conversas. E nunca o diálogo. Provavelmente esqueceste-te da última coisa que te disse. Mas já não importa. Não fui a tempo. E o mundo continua a girar, e eu estico o braço a custo, para me tentar agarrar a ele. Não devia ter saído do meu escudo. Não valia a pena. Tentei perceber se desta vez eram respostas, aquilo que me querias dar. Mas quando em frente a mim apenas subsistem questões, desisto. Queria calar-me e olhar-te nos olhos, só, durante séculos. Mas provavelmente ias-te fartar. É assim que eu sou. Por isso subsisto. Contra as derrocadas que o pesado céu, azul e belo em todos os outros sonhos, me dedica todos os dias. Não te peço mais nada. Gostava que soubesses ler-me, mas isso já não faz parte do teu mundo. E vagueio, perdido nas ruas apertadas. Chama-me. E um dia solto todas as palavras que não consigo dizer-te.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Um enorme ponto de interrogação ergue-se no único horizonte, aquele da estrada branca que lhe deixa os pés em sangue permanentemente. Caminhou durante três idades do homem, lento, cada vez mais lento, mas sempre em movimento, cambaleante. Parou algumas vezes, ofegante, quase morto, mas depois de uma pausa voltava a caminhar. Para trás a estrada desaparecia, imersa e misturada em fantasmas que ainda há tão pouco tempo tinham sido realidades, agora desenhos toscos que se continuavam a rir dele, a apontar-lhe o dedo. A estrada não tinha fim, e ele sabia que quanto mais caminhasse mais ela continuaria, sempre com aquele gigantesco sinal ao fundo, bombardeando-lhe em permanência a vista cansada. Não tinha forças para fazer mais nada, uma aura de fracasso colhia-o e a toda a vontade e a todo o sonho que podia exprimir outrora. Pensava sempre nos mesmos erros, e repetia-os. Afinal, não conhecia mais nada, e ninguém mais lhe mostrava o outro lado de tudo, aquele que ele sempre tentara conhecer. Experimentara-o durante um tempo que parecera de segundos, e agora nem sequer se poderia agarrar a essa memória, porque ela se dissolvia a cada passo que dava.

E a estrada continua, sem fim à vista.




Free Blog Counter