segunda-feira, março 28, 2005

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sábado, março 26, 2005



Perdera a força. Deixara de sonhar com qualquer futuro ou ambição. Afinal ia tudo dar ao mesmo. Percebera que era tudo uma ilusão. E que o próprio mundo onde vivia tinha já uma data-limite. Como encarar tudo isso? Da mesma forma. Mergulhava. Enquanto o mar era azul, enquanto que havia ar para sorver à superfície, enquanto ele podia repousar o corpo molhado em cima da areia e contemplar o sol cair da mesma forma. Parava cada fotograma da sua existência naquele lugar, porque sabia que a memória era a última coisa que lhe poderiam tirar.

segunda-feira, março 21, 2005

E assim, silenciosamente, por baixo das sombras, o blog faz anos (ano para ser mais exacto). A todos aqueles que cá vêm, a todos aqueles que cá escrevem e a todos aqueles que mesmo em silêncio dão o seu apoio, um enorme abraço.

sábado, março 19, 2005


Abri os olhos. Estava ainda no mesmo sítio. O sono recompôs-me. Do dia anterior, a intensidade das horas fugidias e muita coisa para contar. Mas quando me deitei de madrugada, algo continuou a pulsar dentro de mim. Latejei, pela noite fora, e o inevitável sonho, tão mais detalhado e real quanto a força do meu batimento cardíaco, mergulhou-me em pensamentos aos milhares. E claro, ela surgiu, como tantas vezes aconteceu já. Não lhe consegui ver a cara de novo, só os olhos, como sempre. Ria e gargalhava naquele lugar, estávamos ambos sentados a assistir a um espectáculo humano de circo, sem maquilhagens, sem artifícios, em que as próprias atitudes eram a atracção principal. Esquivei-me vezes sem conta aos que vinham ter connosco para participar no espectáculo, mas nem por uma vez falei com ela. Sabia que ela não o queria também. Não trocámos uma única palavra. Mas era como se já soubéssemos tudo sobre o outro, e nunca soubéssemos onde começar. Não era afinal isso que acontecia sempre. Aprendi muito com ela, aquela estátua de granito que me habituei a fotografar às escondidas. Saí de perto dela com outra calma, outra mentalidade, outra maneira de ver a vida. Mas agradecer-lhe seria impossível. Porque o espectáculo tem de continuar. Fomos nós os tristes comediantes, sê-lo-emos sempre. E essa chaga nunca curará enquanto pensarmos que não estamos acima daquilo que podia ter sido, enquanto não percebermos que fomos, e não mais seremos.

Na noite seguinte, ela surgiu. Sorriu daquela maneira que só em sonhos consegue. Caiu o pano.

quinta-feira, março 10, 2005



Caminha, anda, trepa, prossegue,
Passo a passo, sem medo,
Mostra-te ao caminho que se ergue,
Caminha simplesmente,

Sem tremer.

Segue, sem nunca vislumbrar o que está por trás,
Sem nunca querer saber se há curvas nesse amanhã!
Sem querer perceber que ondas se hão de cruzar.
Continua depois dos pés serem ferida,
Quando sentes os ossos gritar,
Quando as asas são memória ida.

Tens a morte inteira para morrer.

quarta-feira, março 02, 2005



Zoe percorre as ruas da cidade onde vive. Percorre os ecos, os sorrisos, os esgares e as pequenas alegrias do mundo suburbano onde quatro paredes a esperam, impacientemente. São cinco da tarde. O comboio magnético, elevado sobre as cabeças, desliza em silêncio. Zoe semicerra os olhos, o peso de um dia inteiro naquela movimentada loja de acessórios biónicos fá-la sempre claudicar. À sua volta, uma estranha fauna persiste, um tímido magote de gente que faz sumir o seu discurso a favor de outros e secretos prazeres. Zoe ergue o olhar para a janela. Prédios altos rodeiam-na. Míseros, em comparação com as torres de vidro que ao fundo dominam a paisagem. Lembra-se de ver aquele local há vinte anos. Era apenas uma planície. Agora é o sítio onde o futuro do seu país se joga. Das torres brotam pequenos veículos, cabines pessoais e intransmissíveis, tão diferentes daquele lento comboio elevado, que a arrasta.

Chega a casa. Escuridão. À sua volta, um apertado corredor, um estranho pretexto para um lar. Quer esquecer. Abre o estore e vê ao fundo as auto-estradas, com os seus carros unicelulares flutuando como moscas ordenadas. Sussura, baixinho. "Limbik Frequencies". As suas palavras surgem num ecrã encastrado na parede, e uma música atonal de cariz ambiente preenche o espaço. A cama surge da parede. Deita-se sobre ela. E em breve é apenas sono. Onde os sonhos de um mundo simples, sem máquinas e automatismos possam ser de novo reais. Zoe não vê o mar há anos. E não sabe já se o mar ainda existe...

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