segunda-feira, dezembro 20, 2004

Dentro do corpo que lateja no escuro,
Dentro da mente que preferia adormecer-se,
Dentro do coração ferido, cicatrizado, mortiço, mas vivo,
Dentro dos olhos, semicerrados como ostras inconformadas,
Dentro do mudo e frio cubículo feito em casa,
Dentro da isolada cama, isolada como uma ilha,
Dentro da memória que repete, como num bar decrépito, os mesmos velhos e usados discos,
Dentro dos pensamentos que se sucedem como uma torrente de pesadas figuras geométricas,
Dentro das palavras que se atropelam em pânico em direcção à sua saída,
Dentro do nú palpitar da noite, e da sua viciosa e cruel canção de insónia,
Dentro do debitar torturante de dúvidas espalhadas pelo leito,
Há espaço até para o que julgava nunca poder voltar a ter espaço.

domingo, dezembro 19, 2004

São dias estranhos. À volta só vê ar frio. Os dedos entorpecem-se quando tentam escrever algo, e doem por tentar qualquer movimento. E as palavras saem sem permissão. Sente-se incomodado. Há qualquer coisa de errado e de gélido. Navega ao acaso. Memoriza as luzes da estrada que passam por ele, conta-as uma por uma como carneiros no leito da infância, foge de algo. Percebe que não consegue sequer escrever. Os últimos dias tornam-no vazio. Sente a confusão organizada à sua volta, e sente o gelo que lhe ataca os dedos. Suspira. Acende outro cigarro, o gesto é totalmente banal. Sente-se um veículo-cliché da realidade que ele próprio abomina. As coisas à sua volta são iguais, mas parecem desmoronar-se. Tudo no seu mundo é igual. Para quê, pensa ele. Prefere desligar o ecrã onde passa demasiadas horas. É Domingo, claro.

quarta-feira, dezembro 15, 2004

"Sem Palavras" - um filme do Grupo de Teatro Miguel Torga

Quinta-Feira - Dia 16 - 18:30
Sexta-Feira - Dia 17 - 16:30

No Auditório 3 da FCML


Quinta-Feira - Dia 16 - 19:00

Nas instalações da ETIC, integrada na Mostra de Vídeo 04...


E na calha vem já uma próxima curta-metragem...
E para a semana começo a descontar para a segurança social...

E de repente (ele há acasos felizes) isto dá tudo uma volta de 180º...

E é justamente no fim do ano que a vida começa...

quinta-feira, dezembro 09, 2004

- É aqui, neste poiso de passados, presentes e futuros momentos de paz que o o escuro se estende como uma pena que se espreguiça ao sabor da brisa. A música entra, lentamente, o raciocínio abandona o local aos poucos. Uma nuvem branca flutua como um espírito de gelo que sorri e tapa a boca. As minhas mãos discutem em silêncio que teclas pressionar. São independentes de mim, mas parecem trabalhar bem em conjunto.

- Prefiro deixar-me levar. Foi isso que fiz outrora. Não resultou, preferi pensar. Mas de novo me deixei levar. E a triste herança é a de ficar para sempre a pensar nisso.

- Porque somos assim, círculos hediondos e enjoativos, porque é que seremos tantas vezes mais previsíveis do que um pêndulo, apesar de lutarmos a nossa vida inteira para descortinar surpresas na selva que nos tapa a vista? Onde estão as respostas? Será a vivência uma negação de tudo o que almejamos? E porque é que passamos tanto tempo a colocar questões numa colecção de palavras, e comunicamos tanto com nós próprios, regredindo de novo, viajando de novo aos círculos.............

- Quem somos desde há tão pouco tempo?

- Podes ter a certeza: não somos mais os mesmos.

sábado, dezembro 04, 2004

Rodeou-se mais uma vez de vultos desprovidos de sonho. Porquê de novo cair na mesma armadilha? A pergunta percorreu-o toda a noite, mas a resposta foi sempre a mais directa e a mais óbvia, justamente a resposta que ele abominava. Procurou sorrir, mas o sorriso era pesado. A ferida abriu-se naquela noite, e banhou-o de mágoa. Era um joguete, o triste joguete que ele procurou nunca ser. Chegou a casa e respirou fundo, aliviado de coisa nenhuma. O mundo à volta por vezes virava-se como uma moeda atirada ao ar, e revelava a sua triste face. "São fases, tenho dias", dizia ele aos que o rodeavam. Mas por dentro explodia com uma violência impossível de controlar.

Quão absurdo este presente de silêncio.

quinta-feira, dezembro 02, 2004

Tenho andado um pouco distante deste blog, mas por uma boa razão...

De volta aos palcos...

"Nú com Violino", de Noel Coward

Dias 2, 3 e 4 de Dezembro na Faculdade de Ciências Médicas, às 21.30... quem quiser reservar bilhetes, fale comigo...

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