quarta-feira, maio 31, 2006

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra nao chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão
Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só

Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci

Porque eu só estou bem
Aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou

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quarta-feira, maio 17, 2006

Deixa o dia amanhecer e escancara as portas, é inevitável que a luz entre pelos salões, pelos móveis antigos a cheirarem a mofo, pelos lençóis que os cobrem, deixa o dia entrar por todo e qualquer recanto, espantamos os insectos e borrifamos as plantas para lhes dizer bom dia,

Põe a saia bonita e a flor no cabelo, deixa que o sol te faça fechar os olhos porque o dia está perfeito, salta da cama, dança ao som da música que só tu ouves, baila enquanto as paredes mudam de cor e a vida nasce onde apenas havia trevas,

Acompanha-me à soleira, passa-me a mão pelo cabelo, deixa-me sair e vai até à janela, a mesma janela com grades que um dia pintámos de azul para que se confundissem com o céu,

Pego no saco e assento-o a tiracolo, do outro lado não emites um som, à volta a música que conhecemos tão bem preenche o espaço até ao mínimo recanto, a palma da tua mão na palma da minha mão, sorrio-te e viro costas,

Ao fundo do horizonte dourado parecem nuvens de tormenta, talvez miragens, talvez realidades. Mas não olho para trás e sigo caminho.



Foto de Alexandre Pereira

sábado, maio 13, 2006

Em círculos
Pululo
Procuro
Esqueço
Não quero saber
Em círculos
Como um ponteiro
Perseguindo a minha própria cauda
Esqueço-me
Quero
Nunca mais
Nada
Não estou
Procurem-me
Ando por aí
Chega das paredes
As eternas paredes sempre repintadas
Para parecerem menos paredes
E mais janelas
Em círculos
Como um ponteiro
Repetindo
O trajecto
Fingindo que tudo é novo
Que ainda há algo para descobrir
Que não se sabe nada ainda
E não há um momento
Um minúsculo e despercebido momento
Em que tudo pare
Para poder respirar



Foto de Yuri Tavares Rocha

sexta-feira, maio 12, 2006

Em frente a uma enorme tela em branco. Imensa, total, sem lhe ver o fim. Na sua mão um pincel minúsculo. E o tempo todo do mundo para pensar, para se atirar ao trabalho. Não sabe as cores. Não sabe as formas. Está sentado em frente à tela, que repousa no chão. Sente-se tão pequeno. Minúsculo. O dia está perfeito. E o pincel na sua mão, novinho em folha. E as tintas à espera. Podia desenhar tanta coisa. Mas permanece sentado, repetindo-se a ele próprio. Como se doces e invisíveis laços o prendessem sem que ele os impedisse. O sentimento não lhe é estranho. De uma forma ou de outra, sempre vira tudo como uma paisagem por criar. Mas perdera demasiado tempo para tentar perceber por onde podia começar. Ainda mais tempo perdera a criar rascunhos que nunca sobreviveriam à mínima tempestade. Agora a vida colocara-o ali. Fecha os olhos. Inspira. Pára por dentro. Deita-se na relva. Sopra apenas uma aragem. Uma pequena brisa. Então lembrou-se que estava quase na hora.



Levanta-se de um ápice, e caminha. Não longe dali, o solo onde se movia parecia acabar abruptamente. Na verdade, aquele espaço, o seu espaço, era limitado. Tinha limites de ordem física. O abismo que contemplava era um deles. Mas, a espaços, algo acontecia, como naquele momento. Lá ao fundo, cada vez mais visível na escuridão impenetrável, um outro mundo cruzava o seu caminho. Via-o lá bem ao fundo, rodeado de névoa e de mistério. Parecia ser um mundo similar ao seu. No entanto, cada vez que o contemplava e conseguia espreitar o que lá se passava, tinha a nítida sensação de que tudo ali devia acontecer bem mais devagar. Ali havia sem dúvida um outro pulsar. Uma outra beleza. Depois vinha a noite escura em que era só ele, sozinho em frente ao abismo, entregue apenas aos seus pensamentos. Habituara-se a ver passar aquele lugar que lhe era estranho, passava sempre à mesma hora. E a cada vez que isso acontecia, viajava pelos segredos que ia desvendar se lá conseguisse chegar. Segredos que ele nunca conseguiria descobrir. Porque, apesar de não o conhecer, aquele lugar e o seu, únicos e simultâneos, sem mudança e sem evolução, faziam parte da mesma engrenagem. Do mesmo momento. Ao mesmo tempo.

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