quarta-feira, maio 19, 2004

Antes de partir...

Espero-te entre o verde de árvores,
Entre o azul de crepúsculos,
Entre o fogo de sóis poentes.

Espero-te lá, onde não te posso abraçar,
Onde és completa na minha memória,
E moras para sempre no abraço que de ti guardo.

Num beijo teu viajo,
E todos os longos momentos
São de repente resumos,
Porque num olhar encontrei o sentido.

Mas antes de partir apenas te abraço,
Rodeado de etéreas orquestras que só nós ouvimos,
Mergulhados numa música tão doce, e ao mesmo tempo tão forte,
Que dentro de nós o coração não existe,
Apenas o eco incomensurável do que sabemos ser mágico...

sábado, maio 15, 2004

E a porta abre-se mais uma vez. A vida recua como um capítulo reescrito, e as paredes à minha volta mudam de cor. As nuvens descem à terra, e o azul do mar inunda-me através de um olhar que me fita mesmo no escuro. A vida, tal como ela devia ser, começa agora...

quarta-feira, maio 12, 2004

Hoje acordei para escrever. Não tanto as palavras pesadas que ultimamente tenho dedicado a este blog (que se adivinha mais um depositário de melancolia do que um anuário dos pensamentos amarelos que se cruzem comigo), mas uma qualquer hipótese de escrita criativa. Vou tentar avançar a peça de teatro que estou a elaborar. Possíveis resquícios da experiência de semanas anteriores, talvez, mas uma vontade imensa de fazer acontecer. A criação é uma musa ingrata, sempre silenciosa mas quando se faz ouvir, rebenta com a força de trezentas carminas buranas... e já não faço sentido nenhum no que digo... eu bem disse que hoje estava numa de escrever...

segunda-feira, maio 10, 2004

E de novo na estrada, constante, sem medida, fado ou sentido. Apenas a estrada, e os meus pés, um por um, num ritmo que só o meu coração percebe, a percorrerem esse infinito ritual, esse surreal chão que não me dá respostas. Atrás de mim, a história que ficou para trás, e os resquícios, traços de sorrisos e abraços que se querem algo mais. A esperança de um encontro futuro, de uma voz que chame, de um apelo que se sobreponha à impossibilidade estatística de duas almas que se encontrem para sempre, e dois corações que cantem em uníssono. Apenas a persistência do ligeiro desgosto, e a melancolia do que acabou. Na memória, a música de olhos que me fitam, e o sabor inesquecível de braços e de um peito que arde. E para sempre a impossível definição de quotidiano, abrupta e modificada a cada passo que dou, em direcção a um qualquer derradeiro livro de memórias...

quinta-feira, maio 06, 2004

Em mim, o padrão incomensurável de um imenso paradoxo.
Em mim, a contradição irritante, a raiva de remar contra a maré.
Em mim, tudo o que não existe lá fora.

Em ti a chave, a porta e o caminho
Em ti as viagens, as partidas,
Em ti os ténues esboços de uma possível existência.

Mas em nós também a medida do impossível,
A cor e a textura da vida, e tudo o que ela mexe dentro de si.
O turbilhão eterno de um imenso sonho que anseia a realidade.

terça-feira, maio 04, 2004

Fantástico como, de vez em quando, as coisas mais claras surgem ao virar da esquina. Nessa ilustre publicação intitulada "Jornal da Região" encontro a derradeira explicação para quem me olha e acha-me um bicho do mato por não ver telejornais. Basta ler esta declaração de uma moradora de um bairro perto do Parque da Bela Vista, e está aí bem explicadinho o que é que eu penso dos telejornais e dos seus efeitos na população:

"Claro que [os moradores] têm medo que entre esta gente haja quem queira prejudicar os miúdos, até por causa das bebedeiras e da droga que de certeza não vão faltar, além de que com tantas notícias de pedófilos e talibans...."


Cada vez que me cruzo com frases destas, sinto-me cada vez melhor por banir da minha existência os mecanismos de controlo que os powers that be engendram para moldar a opinião pública... prefiro criar a minha própria existência.

A televisão é, cada vez mais, um veículo de auto destruição.

sábado, maio 01, 2004

"O meu amor tem lábios de silêncio
E mãos de bailarina
E voa como o vento
E abraça-me onde a solidão termina"

No escuro, um homem canta e sente como eu. No escuro, penso na vida, no passado, no possível futuro. E ao meu lado, sinto uma mão que me toca ao de leve na face. E uma porta abre-se, oculta, sem deixar ver o que há por dentro. E entro, sem saber o que me espera...

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