terça-feira, julho 27, 2004

"Não falei contigo com medo que os montes e vales que me achas caíssem a teus pés. Acredito que a estabilidade lógica de quem não quer explodir façam bem aos escudo que és. Saudade, é o ar que vou sugando e aceitando como fruto de Verão dos jardins do teu beijo. Mas sinto que sabes que sentes também que, num dia maior, serás trapézio sem rede... Desconfio que ainda não reparaste que o teu destino foi inventado por gira-discos estragados, aos quais te vais moldando. E todo o teu planeamento estratégico de sincronização do coração, são mais como paredes e tectos, cujos vidros vais pisando. Anseio o dia em que acordares por cima de todos os teus números, raízes quadradas de somas subtraídas, sempre com a mesma solução... podias deixar de fazer da vida um ciclo vicioso, harmonioso ao teu gesto mimado e à palma da tua mão. Desculpa se te fiz fogo e noite, sem pedir autorização por escrito ao sindicato dos deuses, mas não fui eu que te escolhi. Desculpa se te usei como refúgio dos meus sentidos, pedaços de silêncios perdidos, que voltei a encontrar em ti. Se não te deste a ninguém, magoaste alguém. A mim, passou-me ao lado..."

segunda-feira, julho 26, 2004

Percorro com os olhos a sombra dos dias, maquinais, frios, solenes na sua estóica preserverança de se manterem dias, de nunca se transformarem em breu cerrado. Aquecem-se os corpos com uma simples e vácua frase, esquecida logo que os seus contornos se vislumbram. Lá fora os gritos de infernos impelem a loucura controlada, o caos por explodir, e entre dois arremessos de sentimentos, desenterro escritos de anos passados, que leituras serão agora?
 
Fumo o veículo ilícito de uma qualquer estupefacção, e o o vapor do meu bafo ergue-se e levanta um vento doentio de trovoada. Estou numa sala branca em direcção à parede. Ao meu lado há cómodas e mesas que se formam a partir do nada. Em cima da cama perpétua estás tu, belíssima, estendida como um anjo de granito, uma estátua que me sussurra “vem” para a mente. Sorriste um dia. Julguei-me um afortunado a quem cabia a responsabilidade de te admirar. Mas eram apenas materializações, loucos fantasmas de névoa, os planos que tão cuidadosamente formulara caídos num lago de chamas. Deixei de saber a tua expressão a partir dessa altura. Penso nos tesouros deste mundo, enterrados à espera que exploradores mais sortudos e mais audazes os desvendem e dancem todas as danças de alegria que conseguirem, e eu escavando de forma inútil por lamas impenetráveis, tentando, ao mesmo tempo que dou justiça aos que me querem bem, e ao mesmo tempo que me desafio a mim próprio na tolerância que consigo ter, descortinar um pedaço de céu azul que me faça voar e ser feliz nem que seja no espaço de um átomo. Penso em ti, em ela, nas outras todas que me passaram e que me passarão um dia ainda, sorrindo à minha frente para um sorriso que não sou eu. Jogo o jogo doentio da roda, tentando abrir um naipe triunfante, mas tudo o que tenho na manga são cartas numeradas e inúteis. A palha da vida arrasta-se de forma doentia e o mundo é apenas uma sucessão de vazas desastrosas, que se reconstroem à custa de soluços de destino.
 
21/05/2000

quinta-feira, julho 22, 2004

- Talk to me some more.
 
- It's hard, i don't know what else to say, you're so far away.
 
- Tell me a story.
 
- A story?.... Do you know how it is... do you know what you're supposed to do when you meet a mermaid?
 
- No.
 
- You go down to the bottom of the sea, where the water isn't even blue anymore, and the sky is only a memory. And you float there, in the silence. And you stay there, and you decide that you'll die for them. Only then do they start coming out. They come, they greet you and they judge the love you have for them. If it's sincere, if it's pure... they will be with you, and take you away for ever.

terça-feira, julho 20, 2004

Prefiro deixar as palavras de um grande senhor falarem mais alto. Não tenho nada acrescentar...
 
 
"O Natal está aí... O Sporting, o leão, está faminto de coisas doces, que as estratégias do Sr. Boloni não conseguem dar. Jardel, do fado verde, já só canta a saudade... Jaime Pacheco, do bolo rei, encontrou a fava do fim de ciclos.... a águia não saboreia.... broas há oito natais. De Castela, chegou a liderança, mas ainda não vieram nem os roscos navideños nem os matacaus (?), os belos doces castelhanos para darem festas felizes à luz. José Costa, na Póvoa de Varzim, constrói uma árvore luminosa. Inácio, em Guimarães, acende luzes de encanto no futebol da cidade da fundação. Artur Jorge regressa à briosa, antevêem-se, na época de Natal, exames difíceis. Marinho Peres, em Belém, mantém a luz acesa. Os reis magos não se vão perder, certamente... Carlos Queirós, em terras de sua majestade, é príncipe United. Um Méri Crisstmâss prometedor. Scolari, o chefão da selecção portuguesa, já deu a receita: à mesa, à ceia, não há estrelas.... algo vai mudar mesmo na árvore da selecção. Os Dragões... têm... a mesa mais forte, a mesa mais rica. Farta. Broas... rabanadas... amêndoas, figos, filhozes, bolo-rei, lampreia... Peru.... e sonhos de verdade! Em 22 jogos oficiais, 17 vitórias, 3 empates. Natal gordo para José Mourinho! À procura de um altar em festa, no futebol do seu país. Boas festas... bom Natal."
 
Gabriel Alves - Dezembro de 2002

quinta-feira, julho 15, 2004

A letra de "Mellotron" é um pouco minimal. Por isso achei interessante compartilhar a letra de outra faixa do disco...

José Cid - O Caos


Toda a gente corre pela estrada comum, todos os caminhos vão a lugar nenhum
Se tiveres que fugir, foge, se tiveres que morrer, morre
Só....

A tua cidade é uma vala comum, todos os caminhos vão a lugar nenhum
Se tiveres que fugir, foge, se tiveres que morrer, morre
Só...

(instrumental break épico)

A tua cidade é uma vala comum, todos os caminhos vão a lugar nenhum
Se tiveres que morrer, morre, se tiveres que fugir, foge
Só..

Já nenhum caminho recorda o horizonte
Com que os homens sonharam
Sem como nem porquê, sem como nem porquê,
A vida morre de fronte, e a morte é aquilo que se vê

Vimos pouco a pouco o mundo acabar, e ficámos calados
Não se ouviu um grito, não se fez um gesto
Nem a própria ruína nos conseguiu manter acordados.

Toda a gente corre para a vala comum
Todos os caminhos vão a lugar nenhum
Se conseguires fugir foge, na tua nave do espaço (?)
Só...

(apoteótico final instrumental)

segunda-feira, julho 12, 2004

"José Cid - 10000 anos depois entre Vénus e Marte" (1977)



Quando o disco tem uma faixa chamada "Mellotron, o Planeta Fantástico", sabemos que estamos perante algo sublime. Mas para ser muito sincero, está aqui algo no mínimo supreendente... José Cid Pink Floyd style... não há palavras.

terça-feira, julho 06, 2004

And death shall have no dominion.
Dead men naked they shall be one
With the man in the wind and the west moon;
When their bones are picked clean and the clean bones gone,
They shall have stars at elbow and foot;
Though they go mad they shall be sane,
Though they sink through the sea they shall rise again;
Though lovers be lost love shall not;
And death shall have no dominion.

Dylan Thomas

domingo, julho 04, 2004

Assim acaba. Sinto-me no fim de um corredor comprido, cujas paredes se revestem de estátuas e quadros que ainda há momentos pareceram eternamente vivos, agora gravuras a preto e branco que para sempre permanecerão no seu último segmento, guardando de si a melhor memória que poderei guardar deles. Chego ao fim de uma fase, de um caminho, sem a noção do que haverá do outro lado, e sem querer tê-la. Hoje foi um dia de vários fins. O fim de uma voz enorme, do tamanho de um país, que ilustrou o quotidiano em todos os seus quadrantes. O fim de uma vida ao sabor do vento, sem projecto, adormecida, ignorando a necessidade eterna de movimento, e que por fim acordou para o que era mais importante. E o fim não anunciado de algo ainda maior, de sentimentos que teimam dentro de mim e que não me apetece combater, o fim de tentar perceber a possível vida dentro do paradoxo, a ilusão presente na memória eterna de um olhar e de um sorriso. As saudades assolam-me como farpas, e combatem a noção sempre presente de que a vida voltará ao que era. Que estes meses tiveram tudo de novo, e dentro deles a história em miniatura de um ciclo de vida. Agora apenas a versão maior, e a dor de ter os pés assentes de novo na terra, sob um espectro de solidão que não me abandonou um segundo. E assim se vive. A dor é a irmã do sonho. E antes da imagem eterna e da beleza que se busca, uma penumbra absurda que me consome.

Portugal perdeu.
Amanhã começa a minha vida das 10 às 18.
Sem ti, que sentido?

sexta-feira, julho 02, 2004

Leio as páginas dos dias que passam,
Anotando com um aparo ferrugento a mágoa,
Ultimamente cada hora tem sido uma maratona de obstáculos,
Rodando, nauseabundo, na mesma pista circular,
Atleta cansado e torturado.

Vejo-me daqui a tempos infindáveis,
Esperando ainda a cura que não foi descoberta,
Relacionando episódios de lágrimas,
Amando apenas o que não vejo à minha frente.

Haverá saída? Apenas quando sonho...


quinta-feira, julho 01, 2004

É bom saber que ainda há pessoas que assumem as suas responsabilidades... num país entregue aos bichos, apenas o futebol resta... e esse ao menos é de qualidade. Pela primeira vez num final, passámos além do limiar do "quase", como disse o Gabriel Alves (essa referência). Falta um jogo e eu já acredito em tudo. Mesmo que não ganhemos, o Scolari está lá mais dois anos. Gostava de ver a cara de pessoal que eu conheço que disse antes do jogo com a Espanha que o Scolari ia para casa... pois bem, de uma vez por todas percebam que é de facto possível. Não é por isto ser Portugal que não podemos fazer acontecer, não há uma impotência intrínseca. E se o resto do país não é capaz de perceber isto e de encolher os ombros, que venha um brasileiro abrir a pestana a dez milhões de pessoas. Este homem ganhou o mundial com um Brasil que mal se apurou para ele. Não terá sido por acaso. Vamos embora. Já só falta um.

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