segunda-feira, junho 28, 2004

À beira do que é possível, de ocupação, de trabalho e esforço para dar sentido a uma vida que se quer sem plano nem mapa. Talvez amanhã seja o começo de uma nova fase. Quem sabe o que está para vir. Para trás ficarão indecisões e o tempo que sobrar. E memórias, tantas... e tão sem medida, e tão sem sentido... merda para o gelo de que o mundo nos cobre em contínuo.

domingo, junho 27, 2004

Rodeiam-me silêncios negros, paredes cegas, cores mudas.
Rodeia-me o sorriso sarcástico de uma solidão absurda.
O coração é apenas tortura, de saudade na ausência, de frieza na presença.
Sinto a contradição dentro de mim e choro como uma estátua choraria.
Na minha face apenas a expressão única e imutável de tudo o que me é interior.

Afinal um esmigalhado sentimento de amor que tenta respirar nos pedaços do meu peito.

sexta-feira, junho 25, 2004



Estou farto de cepticismos. Estou farto de discursos da treta. Isto é só futebol, pois é. O país devia ter outros objectivos, pois devia. Mas hoje aprendemos que muitas vezes o que se passa dentro de quatro linhas também serve de lição para nós próprios. Se algo aconteceu hoje, esse algo diz-nos que temos de acreditar. E que só se perde se deixarmos. Parabéns a eles. Mereceram.

quarta-feira, junho 23, 2004

Um dia fui cego, preso num mundo de lágrimas suspensas. Criei para mim uma esfera, onde tentei durante demasiado tempo inserir cubos, sem saber que a forma das coisas à minha volta era afinal uma armadilha do eu que me gritava aos poucos, que, passo a passo, me cobria de branco, me enrolava e me destruía os movimentos.

Um dia a cegueira passou. Dois olhos me acolheram para além de um mundo de trevas. Era Verão, não num qualquer calendário, apenas no céu que nos cobria. Perdi a fala. Tentei agradecer. Um dedo invisível tocou-me ao de leve nos lábios e disse-me "vive".

O fim não existiu. Apenas um longo túnel, e uma centelha de luz muito distante, a aproximar-se de mim como um navio de mil viagens, de início tão pequeno no horizonte, e logo um gigante maior que a vida...

segunda-feira, junho 21, 2004



Afinal, a história ainda não acabou...

sábado, junho 19, 2004

A noite, a angústia, a música ténue passeando de automóvel, a janela aberta e golfadas de vento fustigando violentamente o habitáculo. Silêncio incómodo, um pesado travo de decepção, uma desorientação que se estende a tudo. No fim, as questões, a tristeza, e um tímido beijo...

"And now, our feature presentation".................

segunda-feira, junho 14, 2004

As luzes apagam-se, os títulos aparecem. A cidade adormecia sob um manto belo de tonalidades de verão. A festa existia por entre as suas ruas, materializada em luzes, música, cheiros e sabores que a tornavam tão igual a si própria. Entre os seus labirintos ele perde-se, levado por uma mão quase sempre imaginária, e, sob um céu de pálidas estrelas, ofuscadas pela mera luz que da cidade emanava, acaba por vê-la, com as suas artérias pulsando ao som de melodias longínquas que não explodiam num fervor de folia, mas que simplesmente se debitavam aos poucos, como se da sua respiração emanasse música. A noite era perfeita, a cidade e as suas ruas familiares festejavam, com um sorriso sofrido e cheio de esperança. E o seu coração brilhava também, repleto de uma estranha e fria ternura, e com o sentimento de quem não precisava de nada mais, a não ser um pequeno latejar, um pequeno sorriso um pouco mais rasgado, um pouco de derradeira felicidade por estar ali, por viver aquele momento, e por ter ao seu lado uma possível razão para algo que não conseguia explicar. O filme acaba num anti-clímax algo atípico: um veículo regressando a casa, um disco de doces melodias soando dentro dele, e uma voz a cantar baixinho, enquanto que os títulos finais se desenrolavam no ecrã. Possível sequela?

domingo, junho 13, 2004

Hoje é dia de eleições. Os portugueses vão mais uma vez exercer o seu direito de voto, e escolher quem acreditam serem os mais adequados deputados para representarem o nosso país no parlamento europeu. Muitos portugueses já votaram, num único partido. Qual?

sexta-feira, junho 11, 2004

Momento de respiração antes do amanhã.
Fecho os olhos quando escrevo esta frase.
Em breve, dormirei, e amanhã serei apenas música.
Em breve, sonharei, e amanhã serei apenas saudade.

quinta-feira, junho 10, 2004

Calor,
Um coração que bate mais lento.
A saudade do que não existiu,
A esperança do que não vai acontecer.

Frio,
O bater descompassado das horas,
O arrastar da música nocturna

Que me catapulta às avessas numa espiral de granito.

quarta-feira, junho 09, 2004

Hipocrisia, é os lobos virarem cordeiros.
Hipocrisia, é o raivoso virar manso.
Hipocrisia, é na morte mudar-se finalmente o disco.

Curioso como essa espécie rara que são os políticos tem discursos tão voláteis. Quero ver os mesmos que chamaram nomes a quem morreu hoje, a "expressarem o seu pesar".

sábado, junho 05, 2004

TGV

Comboios em movimento,
Paisagem como astuto réptil,
Infinitamente correndo ao lado da janela como texturas de ilusão.

Pessoas em silêncio,
Música como murmúrio eléctrico,
Timidamente ecoando pelos corações, impacientes de chegar.

Memórias que passam,
E paisagens que ficam,
E texturas, e pessoas, e silêncios,
E músicas surdas a explodirem dentro de cada um,
Desejando liberdades escondidas em múrmúrios.

Traços de poesia aerodinâmica,
Metalizada na voz do funcionário que comunica ao altifalante,
Sistematizada no texto pré-definido e na comida de plástico.
Aquecida por doces palavras que me tocam de longe,
Caracteres de amor, corações que palpitam,
Saudades eternas de quem se ama, afinal.

sexta-feira, junho 04, 2004

20 de Maio de 2004, La Rochelle


Frias, as labaredas de ar
Que me fustigam a face,
Docemente,
Quando contemplo o oceano infinito
Que perante mim se espreguiça.

Em meu redor,
A imagem abstracta,
Criada talvez numa infância,
Talvez num filme,
Libertadora e fugaz sede de paraíso.

Apercebo-me da beleza de tudo o que vejo
E percebo que muito mais ainda há para sentir
E sorrio, e grito, e voo
E torno-me para sempre albatroz,
Na senda de outros horizontes...
Gostava que estas páginas contassem algo de optimista, algo cuja possível felicidade se pudesse extrapolar e influenciar alguém que a lesse nas palavras aqui descritas. Mas o meu mundo não se revelou assim. E esta pálida manhã de sexta-feira encontra-me de novo só, enfrentando o maior paradoxo de todos: alguém que de novo se escapa entre os meus dedos, e atesta a minha condição de solitário, errante e iludido. Gostava que as manhãs neste blog fossem de sol, mas é de nuvens que ele se preenche...

terça-feira, junho 01, 2004

E enfim, estou de volta. Para trás fica uma viagem prolongada por terras francesas e italianas, e muitas horas de comboio, nas quais escrevi muitas coisas... As memórias são muitas, as imagens ainda mais... fica aqui algumas palavras, escritas no TGV entre La Rochelle e Tours.


Quem dera aos pássaros andar,
Explorar os passos que as asas não permitem.
Quem dera aos peixes voar,
Ver do alto os azuis a que chamam casa.

Quem dera às nuvens serem algodão doce,
E fazerem do seu quotidiano os sorrisos de criança.
Quem dera ao sol ser lua,
E, em vez de atarefados cidadãos, ser confessor de amantes.

E quem dera ao Homem ser, apenas,
E sê-lo como nenhum outro fosse,
E vir a ser e ter sido,
Sem plano nem mapa, sem medo nem cautela,
Apenas o desejo de poder dizer que fora,
E que em dias de éden era de facto,
E que, em momentos de angústia, nunca foi,
E que numa explosão de beijos seria para sempre,
E que, sendo, se tornaria ele próprio Ser.




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